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28) Eu te amo para sempre


- Ei pequena. O que houve? – Sentindo-me apertada a seu peito o alivio foi tão grande que ao invés de parar de chorar, chorei mais ainda. Ele pegou-me nos braços e levou-me no colo para dentro de casa. Colocou-me sentada na mesa da cozinha enquanto fazia uma água com açúcar, esperou que bebesse e depois levou-me ao sofá da sala onde deitei apoiada ao seu peito.

- Está melhor?

- Hum hum. – Respondi lutando com as lágrimas e o bolo na garganta. Ele estava fazendo carinho em meus cabelos e fui acalmando aos poucos, até conseguir falar algo inteligível.

- Foi horrível, Anjo. Lá, na casa deles. Quando viram que tinha ido sem você, começaram um interrogatório sem fim a seu respeito e falaram um monte de coisas. Só porque estava usando sandálias e não sapatos, disseram que não podia ser sério, que só queria meu dinheiro, que estava abusando de minha ingenuidade e mais um monte de coisas deste tipo. Que deveria ser um aproveitador, um gigolô de praia. Insinuaram até que estava fazendo algum tipo de lavagem cerebral ou coação. Ah, você nem imagina.

- E você não podia defender-me sem revelar meu segredo?

- Foi. Embananei na hora de explicar seu trabalho e eles pensaram que era porque não trabalhava. Depois tentei explicar, mas não acreditaram que tinha mais dinheiro do que eu, nem em sua casa ou que era diretor de uma clinica, nada! Pareciam surdos. Fiquei nervosa porque não me ouviam, falei um monte para eles e saí sem jantar, batendo a porta. Não volto nunca mais lá, Adriel!

- Errei em não ter ido com você. Desculpe. Se tivesse ido poderia desfazer a má impressão que François teve a meu respeito e que repassou aos pais. Eles devem sentir-se responsáveis por você. Eram amigos de seus pais. Sabem que é sozinha, jovem e inexperiente. Só querem proteger você, querida.

- E você ainda os desculpa? Ah, Adriel!

- Sei que não foi bonito o que fizeram. Apenas entendo que estão movidos pelo carinho que têm por você.

- No caminho fiquei doida de raiva por ter separado de você para estar com eles. Queria chegar logo e te encontrar. E você não estava. Esperei, esperei, esperei e nada. Comecei a pensar que tinha ido embora. Que teve alguma idéia estúpida qualquer sobre não ser bom para mim e que decidiu ir e me deixar. E quanto mais o tempo passava, mais tinha certeza disto.

- Maise, não sou bom para você e François é, mas prometi não ir embora, lembra?

- Por que demorou tanto? - Resolvi ignorar a última frase.

- Perdão, querida. Encontrei um lugar, amanhã quero que conheça. Era tranqüilo e fiquei meditando. Esqueci do tempo.

- Tive medo de perder você, Anjo. Era nisto que estava meditando? Em uma forma de me deixar?

- Maise, olhe para mim. – Olhei para o verde intenso. – Enquanto quiser estarei aqui. Não vou deixar você a menos que seja seu desejo ou que esteja impossibilitado. Prometo.

- Mas não é o que quer, não é? Está prometendo por que sente pena de mim? Quer empurrar-me para François para ficar livre e ir para sua casa. Ouvi o que disse sobre ele. Não precisa ficar comigo se não quer.

- É isto o que pensa?

- Você já falou tantas vezes que somos inviáveis, da falta de futuro, dos problemas e agora esta do François. Diga a verdade, por favor. Não quero mais continuar insegura, com medo de que vá embora a qualquer momento.

- Meu bem, não fazia idéia de que estava sentindo-se assim. Sempre se mostrou tão otimista a nosso respeito. Não imaginava. Desculpe.

- Fico tentando ser positiva, Adriel, mas sou humana e só de imaginar...

- Eu sei. Lá neste lugar onde estive hoje, imaginei como seria minha vida sem você. Doeu tanto que nem consegui continuar pensando.

- Então você gosta de mim um pouquinho?

- Um pouquinho? – Ele puxou-me para mais perto e beijou-me. Nunca mais tínhamos nos beijado depois daquele dia na varanda. Não foi doce como aquele. Foi esfomeado, ardente, desesperado, parecendo conter toda a vontade represada dos últimos dias. Não apenas a vontade, mas também o desejo e até as tristezas das impossibilidades. Foi como se estivesse dizendo seus sentimentos através da boca e língua e dentes que tocavam vorazes a minha boca.

No primeiro momento deixei-me beijar e apenas sentir o que estava dizendo, mas depois quis contar-lhe também e comecei a retribuir da mesma forma e então estávamos travando um diálogo eloqüente, cada qual querendo mostrar mais a intensidade de seus sentimentos que o do outro.

Acabamos deitando totalmente no sofá e no afã de aproximarmos mais do outro, logo caimos para o tapete.

Estávamos amando-nos através de um beijo e não era o suficiente. As bocas eram pequenas para o tanto que queríamos um ao outro. Adriel beijava-me o rosto, o queixo e logo chegou às áreas sensíveis de meu pescoço fazendo-me gemer de prazer. Eu também queria mais e coloquei minhas mãos por baixo de sua camiseta, tocando sua pele nas costas porque não havia espaço suficiente entre nós para tocá-lo no peito como queria.

Neste momento ele parou com os beijos e segurou minhas mãos, tirando-as de suas costas e apertando-as juntas contra nossos corações, mantendo-nos assim abraçados e quietos até nossa respiração descontrolada voltar a um ritmo aceitável.

- Eu amo você. Aconteceu sem que saiba por que ou como, está virando-me do avesso, fazendo questionar e reavaliar tudo que sou ou que sempre pensei ser. Não sei se teremos um futuro juntos ou não, mas ainda que seja louco e insano é assim que é. Amo você inteira, seus cabelos loiros e macios, seu olhar que me encanta, sua boca que me endoidece, seu corpo pequeno e gracioso, sua voz gostosa, seu jeito de andar e de ser. – Ele disse tudo isto com a voz rouca e o olhar terno. E continuou.

- Amo o que você é, do jeito que é, com toda sua paixão e intensidade, fé e otimismo, inconseqüência e espontaneidade, com seu talento, bondade e afeto. Maise, amo seu sorriso e até suas lágrimas. Amo cada pensamento seu e toda frase que diz e gesto que faz. Amo você acordada e dormindo. Você entrou em mim sem bater, sem pedir licença, invadindo-me desde o primeiro dia em que te vi e de tal forma que seria impossível tirar de mim agora. Mesmo que um dia não me queira ou algo aconteça, jamais sairá de dentro de mim. Eu te amo para sempre.

Eu não conseguia dizer nada, emocionada demais e com receio de estragar a beleza do momento. Acho que ele compreendeu, porque disse que faria lanches para nós enquanto eu me trocava. Fui, com as pernas ainda bambas e o coração voando. Após o lanche leve, fomos para a cama.

Dormi com o rosto apoiado em seu peito, ouvindo o som tranquilizador das batidas de seu coração.



Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.

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