Pular para o conteúdo principal

3) O anjo da morte


Acordei de madrugada em meio ao breu absoluto. Os ruídos apavorantes que ouvia tanto poderiam ser de animais lá fora quanto de monstros aqui dentro. Fechei os olhos em pânico, mas as batidas de meu coração eram ainda mais assustadoras. Lembrei-me que o interruptor estava ao lado da cabeceira e acendi a luz.

Mesmo depois de certificar que não havia nenhum monstro sequer embaixo da cama, fiquei ainda quase uma hora encolhida na cama sem coragem de levantar, ouvindo os sons lá fora e imaginando que espécie de feras selvagens habitavam o local.

Quando o escuro foi sendo substituído pela claridade resolvi deixar de ser covarde e levantar. Com muito cuidado para não levantar mais pó, retirei algumas roupas, toalhas e objetos de toalete de minha mala e após certificar que o banheiro era usável, agradavelmente surpresa com o jorro farto e quente do chuveiro, tomei um banho demorado. Coloquei um agasalho branco de moletom, meus tênis e retornei à sala.

Daria quase tudo o que tinha por um gole de café quentinho. Minha cabeça já latejava um pouco reclamando da ausência prolongada de cafeína, mas isto teria que esperar, conclui após examinar cuidadosamente os armários, impecavelmente cheios de pó e nada mais. Comi o resto de algumas bolachinhas que trouxera. Logo mais a mulher de Antônio chegaria com algumas provisões básicas e mais tarde eu iria à vila e compraria o que faltasse.

Pensando no que faria até que chegassem lembrei que a praia era muito próxima. De acordo com Antônio bastaria entrar à direita da casa em uma pequena trilha que me indicara. Segura com a manhã que despontava caminhei resoluta em sua direção. A trilha era apertada, mas rapidamente vi a areia.

À minha frente uma pequena enseada, ladeada por um paredão rochoso e pedras de vários tamanhos. Sentei-me em uma delas magnetizada pelo imenso sol que se despregava da linha do horizonte deixando um rastro dourado no mar.

Há muitos anos não via um amanhecer, mas este me parecia o mais belo de todos. O sol de um vermelho intenso tingia o cinza escuro do céu com seus reflexos alaranjados, parecendo engolir as partes ainda escuras e aos poucos ganhava áreas claras e ascendia mais e mais, com se emergindo das águas, quase todo agora.

A beleza do momento só era mesmo interrompida pela lembrança inoportuna da situação precária em que me encontrava, naquele casebre miserável e o latejar persistente de minha cabeça.

Café. – Lembrei, abrindo e fechando uma das mãos com a esperança de diminuir a tensão. Um pequeno ruído me fez olhar automaticamente para a esquerda em direção à praia.

Meus olhos demoraram a entender o que estava vendo e enviar a mensagem correta para o cérebro, pois em minha direção vinha caminhando um anjo. Lindo, divino e resplandecente, mas ainda assim um anjo, com enormes asas brancas. Ele sorria.

“Ah, meu Deus!!! Por isto estava achando tudo tão bonito. Não era real. Morri à noite e já estou “do outro lado”! E agora este anjo está vindo para me dar as boas novas.” – Gelei de terror. Eu não queria ouvir. Tinha muito a viver ainda!

“Ohhhh” – O som saiu de minha boca sem que eu pudesse impedir, mas me descongelou e pulei, fugindo desesperada de volta a trilha, com o coração saindo à boca. Corri cegamente pela trilha até encontrar a saída que dava em minha cabana, avistando a porta que me salvaria.

“Idiota, é lógico que portas não impedem anjos de entrar em algum lugar.” – Imediatamente perdi as esperanças e parei novamente indecisa. Deveria correr para a vila?

Foi quando vi um carro velho parado e duas pessoas encostadas nele. A esposa de Antônio e seu ajudante.

“Se tiver morrido mesmo eles não me verão, certo? Hora de testar a teoria.” - Dei meu melhor sorriso ao parar em frente aos dois e desejar bom dia. Eles responderam também com sorrisos.

“Certo. Não estou morta. Ainda! Então ele está vindo me buscar. É um Anjo da Morte!” – Conclui chocada. Não tinha outra explicação. Enquanto íamos em direção à porta olhei rapidamente para a entrada da trilha, mas não o vi. Estava salva por enquanto?

Marta, a esposa de Antônio, falava pelos cotovelos, com os braços cheios de pacotes de supermercado, vassouras, panos e baldes. E eu concordava com tudo o que dizia, sem ouvir realmente enquanto buscava por uma solução. Nem cogitei em lhes falar sobre o ocorrido. Não queria ser internada. Imaginei suas expressões de tristeza ao contar a estória, balançando a cabeça e dizendo: “Louca, a pobrezinha”.

Após o que pareceu uma eternidade, a intenção de cozinha estava limpa e pude fazer um café. Tomei na varanda, deixando-a terminar a limpeza e observando o rapaz com a enxada limpando a entrada tentei raciocinar friamente sobre o ocorrido.

Conclui que estava com o emocional abalado pelo stress dos últimos dias e tive uma alucinação. Não tinha realmente nenhum anjo na praia, muito menos querendo anunciar minha morte.

“Desde quando anjos usavam calças jeans e camisetas?” - Sorri de minha idiotice e absurdamente feliz por não estar condenada e nem louca, revi a imagem em minha mente.

“Como era lindo! Uau! Se voltasse a ter outra alucinação com ele, agora que já sabia do que se tratava, talvez não fugisse. Quem sabe?” – Ri com meus pensamentos e o ajudante olhou-me curioso.


Texto registrado no Literar


Imagem: autoria de Rogério Maciel

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FFXIII - Capítulo 11 - Taejin Towers

Antes de entrar na Taejin Towers, há um save. Depois será atacado por um daqueles pássaros gigantes e enfrentará lobos em novo formato, mais resistente, mas um por vez. Depois da adrenalina das lutas de Sulyya, é um anti-climax lutar com este lobinho. lol Uma l'Cie Stone propõe a missão 20, opcional, mas importante de ser feita por dois motivos: desbloqueia a leitura do alfabeto de Pulse e transforma-se em Teleporte depois. A marca está pertinho, na entrada da torre e não é difícil. Primeiro piso - Ground Tier No térreo estão 3 Summons Samurais empedrados. Aparentemente são amigos e inimigos dos fal'Cie e vão ajudar a equipe porque a torre está infestada de inimigos. A cada um dos 7 andares darão missões que terão que ser cumpridas para ganhar acesso a novo level. São as 21 a 26 que, completas, rendem o título de Monumental Ally. Pegue as 3 esferas do térreo antes de entrar no elevador e ir para o segundo piso. Segundo piso - Second Tier Aceite a primeira missão ...

(Dragon Quest IX) Quest list completa em português - Parte 1

Quest #001 - One Good Turn Localização: Angel Falls; garota em frente à igreja Objetivo: Dar-lhe uma Tangleweb. Solução: Pegue uma do outro lado do rio próximo à Angel Falls. Recompensa: Sleeping Hibiscus Pré-requesito: Não Repete: Sim Notas: Também pode comprar Tangleweb à partir de Batsureg. Quest #002 - Pleased As Punch Localização: Stornway; garota na igreja Objetivo: Fazer um Air Punch Party Trick Solução: Atribua Air Punch ao seu Party Trick e execute-o em frente à garota pressionando B e selecionando o botão atribuído ao Air Punch. Recompensa: Pirouette Party Trick Pré-requesito: Não Repete: Não Notas: Não Quest #003 - We Like To Party Localização: Stornway; garota na igreja Objetivo: Fazer um Pirouette, Clap, Jump e Air Punch consecutivamente. Solução: Atribua os movimentos de Party Tricks e mapeie-os no botão da seta para baixo. Pressione B + seta para baixo e para executar os movimentos em frente à garota. Recompensa: Pray Party Trick Pré-requesito: T...

FFXIII - Como usar os materiais e sintetizadores para upar armas e acessórios

Já tive algumas consultas sobre o tema e hoje, à pedido do Marcony, faço este post. Primeiro é importante entender a diferença entre upar e sintetizar. UPAGEM: Quando você upa uma arma ou acessório, apenas vai aumentar seu level em força ou magia ou qualquer que seja seu atributo, mas continuará sendo a mesma arma ou acessório. Todos tem um level máximo à partir do qual não é mais possível upar. As armas e acessórios que já foram upados ao último level ganham uma estrelinha ao lado de seu nome. SINTETIZAÇÃO: é a mudança de forma da arma ou acessório que já foi upado até o máximo level e que pode ser transformado(a) em outro(a) arma ou acessório com a ajuda de materiais apropriados. Este novo equipamento então poderá ser novamente upado até seu máximo level, ganhando nova estrela. Todas as armas podem ser sintetizadas 2 (duas) vezes, sendo que todas as armas possuem 3 formas totais. Em cada forma ela terá um nome diferente e leveis sempre mais altos. Para os acessórios não exis...

Final Fantasy XIII - Rare Itens

Atualização ACESSÓRIOS: COLLECTOR CATALOG – 100.000 para compra, 50.000 para venda. Aumenta o rate para coleta de itens no final da luta. Missão l’Cie 08. Cap. 11 – Faultwarrens – Haerii Archaeopolis CONOSSIEUR CATALOG – 125.000 para venda. Aumenta o rate para coleta de rare itens no final da luta. Evolução rápida do Collector, através do catalizador Minar Stone. RIBBONS – 10 para venda. Aumenta o rate para coleta de itens no final da luta. Chocobo Treasure Hunt mini-game ou em Flowering Cactuars em Faultwarrens ou desmanche da Goddess Favor (ver abaixo) ou rare drop do Vercingetorix, monstro em Paddraean Archaeopolis, missão 64. GENJI GLOVE – 10 para venda. Altera o limite de damage de 99.999 para 999.999. Missão 62, 63 ou 51 (se missões 30 a 50 concluidas). TETRADIC CROWN – 15.000 para venda. Critical Tetradefense. Ganha missão 7 (dica do Diego) ou derrotando o Cid em Fifth Ark. TETRADIC TIARA – 40.000 para venda. Auto tetradefense. Sintetizada da Tetradic Crown com Sc...

FFXIII - Final grandioso

Cheguei ao final da estória agora. Emocionada ainda. Chorei até... Não pretendia acabar hoje, mas não pensei que seria assim. Ainda mais com fases crescentes em tempo de execução. Demorei dez dias no Capítulo 11. Fui para a fase 12, Eden e é muita adrenalina, luta após luta, sem fim, praticamente sem pausas. Mata não sei quantos monstros, atualiza a Crystalium, upa armas, salva e começam outras lutas. Os monstros são cada vez mais fortes, a experiência e os prêmios também e fui indo, indo, sem conseguir parar, empolgada com as lutas, com o visual espetacular, com a agilidade dos acontecimentos, com o ritmo que se impunha e arrastava-me como um vendaval. Quando vi, estava já na última fase, em Orphan Cradle. Ia parar? Não, lógico que não. Depois de tantas lutas, exausta, pensei: - "Agora só tem o chefão. Vou dar uma olhadinha e amanhã termino." kkkkk E fui e fui e fui. Chega uma hora em que é luta atrás de luta e no intervalo não dá nem para usar itens, quan...