Pular para o conteúdo principal

6) Tão humano!


Mais tarde decidi ir à vila ver se descobria algo sobre a jovem. Logo que cheguei vi que estava conversando com o proprietário do bar. Aguardei um pouco após sua saída e fui até lá. Disse que a tinha encontrado na praia de manhã sem entrar em detalhes e usando a desculpa da segurança para justificar minha curiosidade. Eles não desconfiavam que a clínica era uma fachada apenas.

Antônio contou o que sabia e pude ver que já gostava e se preocupava com a moça. Convidou-me para o jantar de boas vindas que daria a ela amanhã à noite e pediu o favor de trazê-la já que não conhecia a estrada o suficiente para dirigir a noite. Teria recusado normalmente, mas teria sido descortês e aceitei.

Não deixava de ser uma boa oportunidade de esclarecer minhas dúvidas. Depois me afastaria de vez deste convívio. “Só desta vez.” – Prometi a mim mesmo.

Estava abastecendo antes de voltar quando vi o jeep velho parar atrás do meu e a reconheci ao volante. Fechou os olhos com a cabeça apoiada no encosto como se estivesse cansada. Parecia muito frágil assim. Quando abriu os olhos demonstrou surpresa de me ver, mas não estava assustada como na praia. “Melhor assim.” – Pensei. Fiz um cumprimento com a cabeça e sorri amigavelmente.

Ela não retribuiu. Ao contrário, ficou muito vermelha e parecia não ter gostado. “Surpreendente.” – Ela sempre reagia de forma diferente da que eu esperava. “Porque corou?” – Mais uma interrogação para se juntar às outras.

Fui embora a imaginando sentada ao meu lado amanhã à noite, esclarecendo todas minhas dúvidas e ri. Duvidava que fosse mesmo tão prestativa.

“Como seria sua voz?” – Estava tentando imaginar ao me dar conta do quanto estava pensando nela e confuso, desta vez comigo mesmo, desviei os pensamentos.

Após o jantar, toquei um pouco de violoncelo. Não consegui nada sequer razoável e logo desisti. Li um pouco ouvindo uma música suave e quando estava mais relaxado fui para o quarto. Não tinha decidido se voltaria à praia amanhã. Por um lado tinha receio de encontrá-la no meu local novamente e por outro precisava urgentemente me energizar, já que não o fiz de manhã. Poderia ser em outro local, até mesmo em casa. Eu apenas gostava que fosse lá, vendo o amanhecer.

Levantei-me ainda no escuro e após me vestir decidi ir. Poucas pessoas tinham o hábito de acordar neste horário. Ontem deveria ter sido uma exceção para ela e esperava que hoje não fosse.

A praia estava vazia. Sentei em minha pedra e tudo era como sempre. Deveria estar satisfeito, mas então porque esta sensação de desapontamento e frustração?

“Isto está indo longe demais.” – Estas sensações novas me confundiam. Não entendia porque me ocupava tanto com uma humana, mas de qualquer forma não era bom. Desde o começo tive o propósito de não os envolver no projeto. Era perigoso e os apreciava demais para arriscar sua segurança.

Já fui um deles e nunca perdi completamente a ligação com o planeta. Por este motivo, quando tive que vir pensei que me adaptaria rapidamente. Não foi assim. Meus primeiros tempos foram difíceis. Sentia-me sufocar com a atmosfera pesada e densa e os hábitos foram difíceis de serem readquiridos. Comer, dormir, andar até que foram fáceis. Demorei mais para me acostumar com as roupas e sapatos são até hoje minha tortura!

Difícil mesmo foi a solidão. Durante o dia estava envolvido com nossas atividades e era fácil, o tempo correndo agilmente. As noites é que se arrastavam e faziam a casa parecia maior e mais silenciosa do que era.

Interessei-me então pela arte e cultura do planeta. Apesar de em outros planos serem muito mais avançadas e perfeitas, existia na produção daqui um valor, um sabor diferente - talvez justamente pelas imperfeições - que comecei a apreciar muito, principalmente a música. Aprendi a tocar alguns instrumentos. Minha preferência era o violoncelo, cujo som mais se aproximava da voz. Quando tocava, lia ou ouvia uma boa música as noites ficavam mais curtas e fáceis, mas jamais completas. Sentia falta dos meus irmãos anjos e a balbúrdia de suas vozes em minha mente. Gostaria que estivessem aqui.

Meu contato maior era com ex-anjos que renunciaram à imortalidade por um motivo ou outro e que agora trabalhavam no projeto. Não sei por que não houve aproximação maior com nenhum deles. Talvez por eu ainda ser um anjo.

Conversava mais com Tana, a fada que comandava a equipe de Seres Elementais responsáveis pela manutenção de minha casa e do complexo. Tana adotara-me como filho e tratava-me como um menino. Ela bem que gostaria que me aproximasse de alguma fada. Certamente era seu sonho. E delas também. Só não o meu. Por mais belas que fossem (e eram belíssimas), não me sentia atraído.

Em um mundo povoado com anjos, ex-anjos, humanos e seres elementais eu não era nenhum deles. Era único: um anjo vivendo como humano. Não me sentia entre iguais nem mesmo com estes.

Os aldeões eram pessoas simples, amáveis, boas, mas nenhum cativou minha atenção ou interesse. Até hoje. Até esta moça surgir e não conseguir parar de pensar nela, começando a ter estes sentimentos de curiosidade, confusão, desapontamento, frustração. Isto era tão... Humano! E desconfortável!


Texto registrado no Literar


Música: sensacional solo de violoncelo de Jacqueline du Pré interpretando Bach Cello Suite No.1 (I. Prelude & II. Allemande).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Final Fantasy XIII: crítica, dicas e walkthrough (detonado, passo a passo)

PARA OS GAME LOVERS DA FRANQUIA FINAL FANTASY Dois anos de agonia sobrevivendo à base de míseros trailers, com remarcações sistemáticas da data de lançamento para isto??? A Square-Enix endoideceu? Terceirizaram o desenvolvimento do jogo para alguma empresa de fundo de quintal? Cadê nossa liberdade de ir e vir, de escolher o que fazer primeiro, de explorar o mundo? Onde estão os segredos, os tesouros ocultos, as mini quests, os bosses opcionais, as armas invencíveis? Inimigos aleatórios, mudanças de roupas, escolha do time, das habilidades, das armas? Nem pensar. E por falar em armas e acessórios, que vergonha! Francamente. E o upgrade das armas então? Meo Deus!!! Fala sério!!! O sistema de evolução dos caracteres? A tal da Crystalium System? Fenomenal... De ruim! Então você não pode escolher para onde ir (é sempre em frente), não pode voltar, não há recantos escondidos, não decide com quem joga e é conduzido ou induzido com relação á natureza de cada caracter. A sua esco

(FF XII) Zodiac Job System e seu sistema de classes

Por André Anastácio O quadro de licenças e o Zodiac Job System Para quem não é familiar, o quadro de licenças de Final Fantasy XII é onde ocorre toda a customização sobre o que é que o personagem poderá fazer. É basicamente uma enorme árvore de talentos (semelhante ao Sphere Grid do X) no qual podemos seguir o caminho que desejamos e, dessa forma, customizar o estilo de combate de cada um dos personagens. Tudo que quisermos que um personagem tenha acesso - indo desde magias e técnicas, e até mesmo quais equipamentos ele poderá equipar - precisa ser comprado no quadro de licença antes de estar disponível para aquele personagem. A principal diferença entre o jogo base e o Zodiac Job System está justamente no quadro de licenças. Na primeira versão, existia apenas um enorme quadro disponível para cada personagem e não existia nada que limitasse o que é que os personagens poderiam ter acesso enquanto avançavam por ele. Dessa forma, ao chegar no fim do jogo seus personagens pod

FFXIII - Tá tudo aqui! (detonado, críticas, estória, dicas, gil, rare itens, farms) Só clicar.

FINAL FANTASY XIII - Indíce geral dos posts História do jogo traduzida A verdadeira história PERSONAGENS Lightning Snow Hope Filhote de Chocobo MEU JOGO Capitulos 1 a 4 Capítulos 5 e 6 Capítulo 7 a Capítulo 7 b Capítulo 8 Capítulo 9 a Capítulo 9 b Capítulo 9 c Capítulo 10 a Capítulo 10 b Capítulo 11 a Capítulo 11 b Capítulo 11 c Capítulo 11 – Mah’Habara a Capítulo 11 – Mah’Habara b Capítulo 11 – Sulyya Springs Capítulo 11 – Taejin Towers Capítulo 11 – Oerba a Capítulo 11 – Oerba b Capítulo 12 - Eden Capítulo 13 – Bosses finais Capítulo 13 - Final Grandioso Pós Game – Titan’s Trial Pós Game - Organizando Pós Game – Círculo de Stones Pós Game – A saga das tartarugas Pós Game –Long Gui Pós Game – Good Bye Trailer de FFXIII dublado em português PULSE Chocobos Mapa de Chocobos e tesouros Primeiro passeio Escavando Tesouros Tesouros e nova área MISSÕES l’CIE STONES As l´Cie Stones Guia das 64 missões Dicas iniciais Lost Retificaçõ

FFXIII - Estratégia para derrotar o Adamantoise

Adamantoise, 5.343.000 de vida principal e mais quatro pernas, cada uma com 356.200 Descobri esta dica no walktrough que estou seguindo. Parece que o Adamantoise e o Adamantortoise são suscetíveis à Death. • Use a Vanille como SAB, tendo Death habilitado no crystarium. • Equipe-a com o Marlboro Wand (evolução da Belladonna) • Acessório com auto-haste e o que mais tiver que aumente magia, boost • Barra de TP cheia • Use um MED e um SEN • Chame Hecatoncheir • Ative o modo Gestalt (triângulo + Y) • Cast Death repetidamente. Pode demorar um pouco para Death pegar, mas... quando pegar... :DDD Experiência: 40.000 CP Drop normal: Platinum Ingot (15.000 gil) Drop raro: Trapezohedron (2.000.000 gil) O Adamantortoise (com a corcunda mais alta do que o Adamantoise) tem "só" 3.566.000 de vida e cada perna 246.600. Este é suscetivel também a slow, deprotect, deshell, curse e daze. :D Vale a pena começar por ele. cp e drops iguais ao do primo "fortão"

(FF XV) Pós game: Regália Type-F, quests Menaces da Ezma e quests do Randolph

Oh meu Pai!!! Eu ganhei o Regália Type-F assim que voltei para Lucis após a finalização da história. Ele é lindoooo!!! Maravilhoso!!! Incrível!!! Sensacional!!! Fantástico!!! Fodástico!!! É o máximo!!! #partiu Explodir Regália Type-F Só é digamos que um pouquinho difícil de estacionar com ele. Tem que ser na estrada e não pode encostar numa folhinha. Se encostar ou danifica todo e eu logo descobri para que serve a opção de manutenção lá no Hammerhead ou explode inteiro e game over. :( lol Eu ameeeiiiii!!!! Mal posso esperar para voar muito por toda Eos. Mas como também mal posso esperar para fazer as outras coisas, fui logo na Ezma, uma velha do Quartel dos Caçadores, lá em cima do mapa. A velha parecia o Cid quando eu não tinha o item que ele pediu: só ficava falando asneiras e nada de me entregar as quests. Fui consultar e o guia diz que habilita depois de finalizar o game e fazer quatro dungeons opcionais: Balouve, Crestholm, Daurell e Costlemark. Balouve, Crestholm e