Pular para o conteúdo principal

5) Alucinação persistente



Minha cabeça parou de latejar aos poucos e quando terminaram a limpeza já não doía quase nada. Decidi ir com eles à vila comprar os mantimentos que faltavam e aproveitar para conversar com Antônio sobre meu pai, o verdadeiro motivo de minha presença aqui.

Foi confortante ver o sorriso alegre em seu rosto, mas não pudemos conversar direito porque o bar estava lotado com vários turistas que chegaram para a feira de artesanato dos sábados. Convidou-me para jantar em sua casa amanhã à noite e aceitei.

Ele milagrosamente me conseguira um jeep alugado, velho mas perfeito para aquelas estradas terroristas. Toda alegre fui passear um pouco antes de voltar para a cabana. Amava estas feirinhas e foi delicioso perceber que a maioria das que se espalhavam pela praça era de artesanato genuíno e não daquelas porcarias fabricadas aos montes que costumava ver na cidade.

Comprei uma toalha de tear, colorida e alegre para a mesa da cozinha, algumas plantas e flores, vasos, guardanapos, um sino dos ventos inacreditável de tão original e bonito, um capacho para a entrada onde estava escrito “Bem Vindo”. “Só falta um pingüim para a geladeira.” – Ri antes de ter minha atenção capturada pela barraca seguinte, de bijuterias locais.

Tinham o mesmo símbolo do medalhão pendurado no colar que minha mãe me dera quando fiz 18 anos, um sol de ouro com uma pequena fada em alto relevo ao centro. Uma pequena mola permitia abrir e, dentro, estavam fotos de nós três sorridentes e felizes no aniversário de meu pai. Meu coração apertou com a lembrança enquanto o tocava em meu peito.

Os da barraca não eram nem de ouro e nem tão bem feitos, como uma cópia mal acabada. Perguntei à senhora o que significava o desenho. Disse-me que era o símbolo de Portal do Sol, a cidade das Fadas. “Deve estar se referindo às mulheres locais, tão encantadoras e gentis.” - pensei. Ia lhe mostrar o meu colar quando vi o anjo. Estava conversando com Antônio. Observei confusa até que se despediram com amigáveis tapinhas nas costas.

“Ahmmmm?!?!? Conversando??? Tapinha nas costas??? De um anjo??? Da morte???” – Balancei a cabeça, abri e fechei os olhos para espantar a nova alucinação, mas continuei a o ver, agora de costas, com aquelas asas imensas e alvas caminhando entre as pessoas sem despertar qualquer atenção. Belisquei-me, doeu e continuei a ver as asas, diminuindo enquanto se afastava.

Voltei ao bar, com a desculpa da sede. Antes mesmo que pudesse pensar em um jeito de perguntar sem mostrar muito interesse, ele disse:

- Coincidência! Acabei de falar de você. – Como se não estivesse me corroendo de curiosidade, tomei um gole vagaroso de coca e só depois perguntei, desinteressadamente:

- É mesmo? Para quem? – Concentrei-me nas pessoas que passavam pela rua, como se estivesse absolutamente alheia à resposta.

- Adriel, o diretor da Clínica de Reabilitação. Não viu um moço bonito falando comigo quando estava vindo?

- Ah tá! Sei. – E agora? Perguntava sobre ele ou sobre o que falaram a meu respeito? Qual chamaria menos atenção?

- Parece que viu você na praia hoje de manhã e quis saber quem era. Medida de segurança, sabe? - Perguntou.

- Sei. – Não. Não sabia, mas dei corda.

- Um rapaz fantástico, Maise. Você vai ver. É seu vizinho. Tem uma casa na outra ponta da praia. Todos o admiram, embora não seja muito dado. Não é chegado a conversinhas, sabe? Mas precisa ver como cuida de tudo. Nunca tivemos um único problema com a clínica ou com os coitados que se internam lá. E parece que é tudo de graça. O tratamento, quero dizer. Um verdadeiro anjo. – Concluiu com admiração.

- Por falar em anjo, não tem algo diferente nele? – Perguntei, aproveitando a deixa. Quem sabe todos viam as asas e já tinham se acostumado.

- Porque é bonito demais, você quer dizer? As mulheres daqui estão perdidamente apaixonadas, mas ele nunca deu entrada para nenhuma delas. Vivem suspirando como antas. – Riu alto ao dizer isto.

- É mesmo? – Era demais para mim. Minha cabeça começou a rodar com tanta coisa para pensar ao mesmo tempo. Resolvi encerrar a conversa. – Vou indo, Antonio. Obrigada por tudo. Volto amanhã à noite então. Tchau.

- Qualquer coisa telefona, tá? Tchau. – E já voltava para seus clientes.

Queria voltar para a cabana. Não conseguia e nem queria mais pensar em nada que não fosse estar lá, naquele aconchego silencioso.

Antes de sair da vila, passei no posto para abastecer. Enquanto aguardava uma Cherokee ser abastecida à minha frente, encostei a cabeça no encosto do banco e fechei os olhos por alguns momentos. Quando os abri o anjo estava lá, falando com o atendente e pagando.

Neste exato momento pareceu me ver, inclinou a cabeça no mesmo cumprimento que fez na praia, seguido de um sorriso, entrou no carro e se foi.

“Oh, céus!” – Era diabólico de tão belo. Não poderia ser humano com um sorriso daqueles! Senti raiva dele. Parecia-me que estava zombando de minha confusão. - “Oras, que pegue suas asas e vá pular nuvens no céu!”

Estava mesmo mentalmente exausta quando cheguei à minha taperinha. Nem tive ânimo para distribuir a nova decoração. Embora estivéssemos ainda no final da tarde, coloquei um pijama e deitei-me, fechando os olhos e agradecendo à sonolência branca e tranqüila que invadiu minha mente rapidamente.


Texto registrado no Literar

Imagem: Feira de Artesanato em Vila Velha.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FFXIII - Capítulo 11 - Taejin Towers

Antes de entrar na Taejin Towers, há um save. Depois será atacado por um daqueles pássaros gigantes e enfrentará lobos em novo formato, mais resistente, mas um por vez. Depois da adrenalina das lutas de Sulyya, é um anti-climax lutar com este lobinho. lol Uma l'Cie Stone propõe a missão 20, opcional, mas importante de ser feita por dois motivos: desbloqueia a leitura do alfabeto de Pulse e transforma-se em Teleporte depois. A marca está pertinho, na entrada da torre e não é difícil. Primeiro piso - Ground Tier No térreo estão 3 Summons Samurais empedrados. Aparentemente são amigos e inimigos dos fal'Cie e vão ajudar a equipe porque a torre está infestada de inimigos. A cada um dos 7 andares darão missões que terão que ser cumpridas para ganhar acesso a novo level. São as 21 a 26 que, completas, rendem o título de Monumental Ally. Pegue as 3 esferas do térreo antes de entrar no elevador e ir para o segundo piso. Segundo piso - Second Tier Aceite a primeira missão ...

(Dragon Quest IX) Quest list completa em português - Parte 1

Quest #001 - One Good Turn Localização: Angel Falls; garota em frente à igreja Objetivo: Dar-lhe uma Tangleweb. Solução: Pegue uma do outro lado do rio próximo à Angel Falls. Recompensa: Sleeping Hibiscus Pré-requesito: Não Repete: Sim Notas: Também pode comprar Tangleweb à partir de Batsureg. Quest #002 - Pleased As Punch Localização: Stornway; garota na igreja Objetivo: Fazer um Air Punch Party Trick Solução: Atribua Air Punch ao seu Party Trick e execute-o em frente à garota pressionando B e selecionando o botão atribuído ao Air Punch. Recompensa: Pirouette Party Trick Pré-requesito: Não Repete: Não Notas: Não Quest #003 - We Like To Party Localização: Stornway; garota na igreja Objetivo: Fazer um Pirouette, Clap, Jump e Air Punch consecutivamente. Solução: Atribua os movimentos de Party Tricks e mapeie-os no botão da seta para baixo. Pressione B + seta para baixo e para executar os movimentos em frente à garota. Recompensa: Pray Party Trick Pré-requesito: T...

FFXIII - Como usar os materiais e sintetizadores para upar armas e acessórios

Já tive algumas consultas sobre o tema e hoje, à pedido do Marcony, faço este post. Primeiro é importante entender a diferença entre upar e sintetizar. UPAGEM: Quando você upa uma arma ou acessório, apenas vai aumentar seu level em força ou magia ou qualquer que seja seu atributo, mas continuará sendo a mesma arma ou acessório. Todos tem um level máximo à partir do qual não é mais possível upar. As armas e acessórios que já foram upados ao último level ganham uma estrelinha ao lado de seu nome. SINTETIZAÇÃO: é a mudança de forma da arma ou acessório que já foi upado até o máximo level e que pode ser transformado(a) em outro(a) arma ou acessório com a ajuda de materiais apropriados. Este novo equipamento então poderá ser novamente upado até seu máximo level, ganhando nova estrela. Todas as armas podem ser sintetizadas 2 (duas) vezes, sendo que todas as armas possuem 3 formas totais. Em cada forma ela terá um nome diferente e leveis sempre mais altos. Para os acessórios não exis...

Final Fantasy XIII - Rare Itens

Atualização ACESSÓRIOS: COLLECTOR CATALOG – 100.000 para compra, 50.000 para venda. Aumenta o rate para coleta de itens no final da luta. Missão l’Cie 08. Cap. 11 – Faultwarrens – Haerii Archaeopolis CONOSSIEUR CATALOG – 125.000 para venda. Aumenta o rate para coleta de rare itens no final da luta. Evolução rápida do Collector, através do catalizador Minar Stone. RIBBONS – 10 para venda. Aumenta o rate para coleta de itens no final da luta. Chocobo Treasure Hunt mini-game ou em Flowering Cactuars em Faultwarrens ou desmanche da Goddess Favor (ver abaixo) ou rare drop do Vercingetorix, monstro em Paddraean Archaeopolis, missão 64. GENJI GLOVE – 10 para venda. Altera o limite de damage de 99.999 para 999.999. Missão 62, 63 ou 51 (se missões 30 a 50 concluidas). TETRADIC CROWN – 15.000 para venda. Critical Tetradefense. Ganha missão 7 (dica do Diego) ou derrotando o Cid em Fifth Ark. TETRADIC TIARA – 40.000 para venda. Auto tetradefense. Sintetizada da Tetradic Crown com Sc...

FFXIII - Final grandioso

Cheguei ao final da estória agora. Emocionada ainda. Chorei até... Não pretendia acabar hoje, mas não pensei que seria assim. Ainda mais com fases crescentes em tempo de execução. Demorei dez dias no Capítulo 11. Fui para a fase 12, Eden e é muita adrenalina, luta após luta, sem fim, praticamente sem pausas. Mata não sei quantos monstros, atualiza a Crystalium, upa armas, salva e começam outras lutas. Os monstros são cada vez mais fortes, a experiência e os prêmios também e fui indo, indo, sem conseguir parar, empolgada com as lutas, com o visual espetacular, com a agilidade dos acontecimentos, com o ritmo que se impunha e arrastava-me como um vendaval. Quando vi, estava já na última fase, em Orphan Cradle. Ia parar? Não, lógico que não. Depois de tantas lutas, exausta, pensei: - "Agora só tem o chefão. Vou dar uma olhadinha e amanhã termino." kkkkk E fui e fui e fui. Chega uma hora em que é luta atrás de luta e no intervalo não dá nem para usar itens, quan...