Pular para o conteúdo principal

17) Café da manhã com Adriel


Ao abrir os olhos a primeira coisa que vi foi Adriel, sentado em uma poltrona na lateral da cama, parecendo adormecido. Fiquei alguns instantes admirando-o. Como era possível que fosse ainda mais belo de olhos fechados?

- Adriel. – Chamei baixinho. Ele abriu os olhos e sorriu, levantando-se e vindo para mais perto.

- Oi. Tudo bem? – Perguntou. Lógico que estava tudo bem. Como não estaria acordando com esta visão e se ele sorria daquele jeito? Queria acordar assim todos os dias de minha vida.

- Sim. Tive um sonho esquisito. Não me recordo direito. Parece que tinha um gatinho. – Não ia contar que ele me salvava de uma queda e que me agarrava a ele como cola super bonder e menos ainda do quanto tinha gostado de estar em seus braços.

- Onde estou? É sua casa? Por quê? – Olhei para o quarto, admirando a elegância da decoração em tons pastéis, com alguns toques de rosa. Clássico e feminino, sem exageros. Só podia ser sua casa, mas duvidava que fosse seu quarto.

- Não foi um sonho, Maise. Aconteceu de verdade. Não fique preocupada. Você está segura, agora. E sim, é minha casa. Está em um quarto de hóspedes. Aqui podia cuidar melhor de você – Falou tudo isto pausadamente, sentado na lateral da cama e com uma das mãos tocando meu punho, como se me tranqüilizando.

Lembrei então de tudo, de subir até o topo, do gatinho unhando meu rosto, de ter se transformado em uma bruxa e de Adriel, surgindo no momento exato em que estava caindo. Recordei envergonhada que realmente tinha agarrado-o quando estava voando em seus braços. “Peraí! Voando?”

- Hummm... Então foi real? Pensei que era minha imaginação fértil de artista. – Não consegui resistir a esta pequena ironia. Ele gargalhou.

- E eu preocupado que estivesse abalada emocionalmente! Você é incrível, Maise.

- Quer dizer que não apenas tem asas como voa? Você é um anjo ou algo parecido?

- Algo parecido. – Disse lacônico, mas não estava disposta a encerrar o assunto.

- Como assim?

- Vou explicar depois, prometo. Agora não é hora. Deve estar com fome e sede e precisamos cuidar de seus machucados. O que acha de tomar um banho e me encontrar na varanda? - Estava mesmo com fome, sede, com vontade de ir ao toalete e só por isto concordei.

- Ok. Não pense que vou esquecer. Você prometeu. – Levantei assim que a porta se fechou. No banheiro igualmente elegante foi impossível não me ver inteira no imenso espelho. Eu parecia uma indigente atropelada! O rosto, além de todo arranhado e inchado, tinha rastros de sangue seco, as pernas e braços estavam machucados e as roupas sujas e rasgadas.

- Meu Deus! E pensar que ele me viu assim! Que horror! – Tomei banho com cuidado para não machucar mais, coloquei roupas que encontrei no quarto – “Que gentil! Deve ter ido buscar enquanto eu dormia!” – E saí à procura da varanda. Passando pela sala, admirei mais uma vez seu bom gosto.

Era dia claro. Dormi toda a noite? Na varanda ele estava esperando próximo a uma mesa farta, linda e com flores. Segurou a cadeira enquanto me sentava.

- Coma, querida. Depois do café, Tana, minha assistente, cuidará de seus machucados. Ela tem uma poção milagrosa e logo não haverá mais o menor sinal em seu rosto, não se preocupe. – Ele deve ter notado o quanto estava envergonhada pela minha aparência grotesca.

Enquanto comemos, contei-lhe todos os detalhes de minha subida na árvore. A esta altura dos acontecimentos, tomando café da manhã ao lado de um anjo com imensas e brancas asas, não parecia tão irreal e tudo era perfeitamente possível e normal, até mesmo gatinhos que viram bruxas.

- Adriel, obrigada. Por ter chegado na hora certa, por ter me salvo e agora, todo este cuidado. Você é muito gentil. Muito obrigada mesmo!

- Maise, não tem porque agradecer. Fico feliz em ter ouvido seu chamado e ter chegado a tempo. Fico arrepiado só em pensar o que teria acontecido...

- Você sabe quem tentou me matar? E por quê? – Quando pensava nisto seriamente, sentia medo.

- Não, querida. Não tenho a menor idéia, mas estou fazendo o possível para descobrir. – Ele me chamou de querida, de novo???

- Você acredita em mim, não é? – Tinha que perguntar isto.

- Vi você lá, Maise. Não penso que teria subido até aquele galho e se pendurado por vontade própria. Por mais que pareça inacreditável, só pode ser verdade e temos que saber quem foi e a razão. Você tem alguma suspeita? Deixou alguém em sua cidade que a odeie a este ponto? Está fugindo de alguém?

- Não. Lógico que não. Também não conheço ninguém capaz de se transformar. Aliás, até vir para Portal do Sol, nunca acreditei nestas coisas. Até conhecer você, aliás.

- Ah, sim. Claro. – Ele fugiu da deixa, não parecendo disposto a conversar, pensativo. Tudo bem, eu podia esperar.

Terminamos o café e fomos para a sala. Ele chamou por Tana, que entrou rapidamente.

Tana era uma senhora de meia idade. Um pouco acima do peso. Cabelos em coque, óculos, vestido até os joelhos e avental.

- Oh, pequena, como vai? Dormiu bem? O café estava bom? – Pegou minhas duas mãos, olhando-me inteira e continuou antes que pudesse responder. – Está tão magrinha. Não deve estar se alimentando bem naquela tapera miserável onde está vivendo. Pobrezinha!

Falando sem parar foi levando-me até o sofá onde deitou-me. Abriu a cesta que trouxera e tirou alguns potinhos que colocou na mesinha próxima. Mandou fechar os olhos e senti que estava passando algo pelos ferimentos do rosto e depois das pernas e braços. Examinou a barriga para ver se tinha machucados lá também e por fim, o colo. Pegou em meu medalhão e parou subitamente com a enxurrada de palavras. Abri os olhos e ela estava observando-o fixamente.

- Onde conseguiu isto, menina? – Perguntou com voz séria.

- Ganhei de minha mãe em meu aniversário. – Respondi intrigada. – Por quê?

- Bonito. Agora não se preocupe mais com nada. Já cuidei de todos os machucados. Espere algumas horas e depois tome outro banho para tirar a pomada.

- Sim. Obrigada. – Estranhei sua mudança. Adriel e ela trocaram um olhar esquisito, como se estivessem conversando e ambos pareciam contrariados. Despediu-se rapidamente e saiu.

- Adriel, o que houve? Ela conhece meu medalhão?

- Nada, Maise. Não se preocupe. Tana é assim mesmo. Pode aguardar aqui um instante? – Saiu pela mesma porta atrás de Tana.

Estranho. Era a segunda vez que alguém tinha esta reação ao ver o medalhão. O que disse a mulher na casa de Antônio? Que era o símbolo da proteção das Fadas?

Fadas! Era só o que estava faltando. Afinal, depois de anjos e bruxas o que haveria demais em fadas? Nada, absolutamente nada! Era mesmo de se estranhar que ainda não tivesse topado com uma. Este lugar era mesmo surreal ou eu é que estava endoidando sem perceber?

Para falar a verdade, se endoidar significava ser chamada de querida por um anjo maravilhosamente belo com um sorriso estonteante que me deixa com borboletas no estômago e pernas trêmulas... Bom... Talvez as pessoas valorizassem demais isto que chamam de sanidade.



Texto registrado no Literar.

Versão em texto simples para impressão aqui.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

(FF XV) Pós game: Keycatrice lvl 55, o primeiro calabouço ninguém esquece

(Antes de ler este post, talvez queira saber mais sobre calabouços .) Meu primeiro calabouço foi o Keycatrice porque resolvi fazer na ordem dos levels e esta é a mais baixa. Ela possui 3 salas de ramificação. Na primeira ramificação a porta correta é a da esquerda e nas outras duas é a do meio. Há um camp após a primeira ramificação. Os mobs deste calabouço são na maior parte aqueles pudins. Eles são chatinhos, mas não chegam a ser difíceis. Não existem pontos de translocação suspensa para recarregar o MP nos calabouços. Assim, leve bastante elixir. O boss, Lakhmu Flan, é um pudim preto imenso e como a sala é pequena a luta fica bastante confusa. Ele é vulnerável apenas à luz e resistente à todos os outros tipos de damage. Se tiver bastante potions, uma opção é usar Armas Reais. Ele dropa a arma Hypermagnum com ataque 388 para o Prompto. Por coincidência eu tinha encontrado uma ontem, próximo do local da luta com o Naglfar. Estes são os acessórios que peguei: Na p...

(FF XV) Dicas sobre o combate em Final Fantasy XV

Por André Anastácio. O combate de Final Fantasy XV é simples e bem intuitivo, mas isso não significa que não hajam vários aspectos mais sutis presentes. Quando tais aspectos são incorporados bem em sua gameplay, eles podem aumentar a sensação de estratégia e transformar o combate num verdadeiro show de acrobacias e dano. Nesse post eu irei apresentar os principais aspectos do combate para que você possa tirar o maior proveito possível das ferramentas disponibilizadas pelo jogo. Aspectos base do combate: Ataque (Blitz) - "Blitz" é como o jogo chama os combos automáticos feitos ao segurar o botão de ataque (● é o botão padrão). Cada arma possui uma sequência fixa de ataques e cada uma delas possui vantagens e desvantagens, criando um sistema bem situacional. Todas as armas executam Blitz, exceto as do tipo Machinery que simplesmente soltam um tiro por vez. Existem variações caso você execute Blitz enquanto segura o analógico de movimentação para qualquer uma das...

(FF XV) Capítulo 14: pausa com comidas que aumentam XP ganho, summons e armas reais

Quando eu saio está tudo diferente, escuro e cheio de demônios. Umbra está a minha espera e devo me encontrar com meus amigos no Hammerhead. Hum... Tá bom... Cadê o Regália?  Tá brincando que tenho que ir a pé? Quase 4 kms, sozinho, no escuro e com as duas superpotions que me sobraram da última luta??? Que aliás, já não são duas. Agora só tenho uma. Que situação!!! Mirem-se no meu exemplo e encham-se de superpotions antes de partirem para o 13 ou vão com o bolso cheio. Sem dinheiro e sem poções a vida começa a ficar bem miserável... :( Felizmente consigo uma carona e chego ao Hammerhead. Confesso que estava ansiosa. Quero ver os meninos, saber como estão. E a Cindy? Os meninos estão iguais, praticamente. Nada ou quase nada mudou. Esperava uma cena de uma longa conversa entre eles e nada. É ou não é uma oportunidade perdida ali? Eu achei. Procuro a Cindy. Não encontro. Não está no Hammerhead. Nada a fazer exceto partir para o encerramento. Não estou pronta, óbvio. Preciso...

(FF XV) Elemancy: Entendo a criação e a manipulação de magias em Final Fantasy XV

Por André Anastácio. Olá Pessoal! Estou de volta e dessa vez vou tentar explicar tudo sobre esse novo sistema de magias adotado em Final Fantasy XV. Preparem-se para um post bee em longo e com algumas partes um pouco complexas, então caso algo esteja confuso demais basta postar aí nos comentários e tentarei solucionar as dúvidas assim que possível. O novo sistema tem prós e contras e apesar de a princípio s er extremamente básico, é possível se aprofundar bem e perceber que existe espaço pra bastante customização e certa complexidade. Então vamos lá! Começando do básico: Os três tipos de magia Antes de mais nada, é importante entender quais são as três magias "base" que você terá acesso ao longo game. São elas: Fire (fogo) Lightning (raio) e Ice (gelo). Magias no mundo de Eos funcionam de maneira bem diferente do que estamos habituados em outros Final Fantasys. Desta vez, elas serão o efeito de misturas feitas por você utilizando a matéria retirada diretamente ...

(FF XV) Arma suprema: como obter os Chifres em Hélice para a quest do Cid e Arroz Mãe e Filho

- Vá para Velha Lestallum e pegue a quest Os últimos espiracórnios, lvl 29. - Vá para o ponto da caçada. - Salve antes de iniciar e se o item não cair, carregue o jogo e mate novamente até cair. - Entregue a hunt. - Entregue os chifres para o Cid. - Durma algumas vezes e o Cid vai telefonar e informar que sua arma está pronta, a Arma Suprema, com ataque de 364! Para ajudar a melhorar a taxa de drop do item: - Equipe o Noctis com a Dissecadora. Esta espada é boa para quebrar membros e o chifre em hélice resistente você só consegue quebrando os chifres dos espiracórnios. - Ative o nódulo Destruidor de Demônios na seção de Combates da Ascenção. Quebra partes com translocação ofensiva. - Coma o Arroz Mãe e Filho que aumenta em 50% a taxa de obtenção de itens. - Tenha a habilidade de sobrevivência do Gládio em 10, porque também aumenta a taxa de obtenção de itens melhores. Arroz Mãe e Filho A receita para o arroz Mãe e Filho  só pode ser obtida após a finalizaç...