Pular para o conteúdo principal

9) O retorno de Adriel


Adriel estava confuso naquele instante, logo após seu renascer e permaneceu neste estado nebuloso por tempo que pareceu interminável. Pensamentos soltos, pedaços de lembranças, um rosto, uma voz, o nome a girar e revolver-se em sua mente, em um turbilhão grosso e espesso, no qual não encontrava a ponta original a seguir, o elo que daria lógica e estrutura a tudo.

Abandonou-se ao doce rosto em cujos olhos azuis mergulhou. Esqueceu-se do caos imerso na contemplação de sua face e os sentimentos emergiram juntamente com recordações esparsas que aos poucos foram completando-se, pedaços de puzzle que montava-se velozmente.

- Maise, querida. Agora recordo. O que houve? Terei morrido? Onde estou?

Compreendeu sua localização no espaço vendo ao longe o globo azul da Terra e o pensamento impulsionou-o em sua direção. Entrou na atmosfera do planeta sentindo queimar-se com a densidade tão alta, que apagava e comprimia ainda sua forma, modificando-a tal como antes fizera ao seu corpo espiritual.

Foi assim, invisível aos olhos humanos, agrupamento circular de pura energia, que chegou a Portal do Sol.

Entrou em sua casa pelo terraço, como de hábito e estranhou as portas fechadas e a grossa camada de pó por sob móveis e objetos. Ninguém.

- Maise! – Onde estaria? Quanto tempo teria passado? Parecia abandonada. Onde teriam ido? Os pensamentos surgiam em vendaval, com a saudade explodindo em ondas de agonia. Foi à cabana e o cenário era o mesmo. Portas fechadas sob silêncio, vazio e pó.

- Maise! – As perguntas repetiam-se em sua mente. Buscou algo, algum sinal, um indício que fosse que levasse a alguma resposta, sem nada encontrar.

Foi à Portal do Sol. Tudo era igual. A pequena vila respirava ao sol do meio-dia. No bar de Antônio percebeu a data no calendário exposto na parede.

- “Um ano!!! Tanto tempo!” – Foi entendendo aos poucos o que provavelmente ocorrera.

Lembrava-se da flecha, direta e certeira, enviada à Maise, de jogar-se em sua direção, da explosão e de olhar em seus olhos uma última vez querendo reter para sempre sua imagem e então o silêncio, até despertar sem corpo, no universo.

Retornou à sua casa, para ordenar os pensamentos e permaneceu entre ela e a cabana até lembrar-se do Portal de Etera. Buscou-o, deparando-se com o nada onde costumava estar a entrada para o mundo encantado.

- “Fechado!” – Cogitou sobre o final da batalha. Teriam sido derrotados pelos demônios? Capturados? Maise teria voltado para sua casa, na cidade?

- Maise... Onde está você, meu amor? – Era o que dizia, em voz sem som que sequer ecoava nas paredes de sua casa vazia na cidade, realçando ainda mais o silêncio do vazio.

Foi à galeria de François. Lá estava ele, no escritório, aparentemente em um dia normal de trabalho. Na parede retratos de Maise feitos por seu pai. Desejou ter lágrimas que desaguassem e aliviassem um pouco da angústia por vê-la retratada, tão bela e inatingível.

Na Cratera, deixou-se ficar, melancólico, refletindo sobre outros possíveis rumos de Maise. Era como se ainda a visse naquele dia que passaram juntos ali, tão felizes em seu futuro inabalável.

- Celes! Como não pensei nisto antes! – Rumou em sua direção, imediatamente. Lá estavam os conselheiros, sua família e amigos. Haveriam de saber sobre o destino de Maise e também poderiam ajudar a reconstruir seu corpo espiritual. Não poderia continuar desta forma, energia condensada unida apenas por sua vontade.

E tal qual ocorrera da última vez que fizera o mesmo trajeto as energias densas da Terra, sua gravidade o puxava para baixo e agora sem massa, não conseguiu romper os limites do planeta. Tentou uma vez ainda, e outra, e outra, e outra e outra, até compreender que nesta forma estava inexoravelmente preso á Terra.

Abatido retornou à sua casa e apenas deixou-se ficar, consumindo fiapos energéticos de Maise que encontrava aqui e ali. Na cabana pairou pela cama onde velou tantas noites por seu sono, embevecido e encantado.

E assim, vivendo de lembranças, quedou-se por dias que transformaram-se em semanas e depois em meses, sem que percebesse.

Na vila de Portal do Sol rumores diziam de uma alma atormentada que assombrava casa e cabana e teciam estórias sobre um lindo amor perdido para sempre.


...

Texto registrado no Literar.

Imagem daqui.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

(Dragon Quest IX) Críticas, primeiras impressões, detonados e minha breve vida como anjinho.

À primeira vista parece que nada mudou, exceto o enredo e os personagens. O traço característico de Akira Toryama, criador de Dragon Ball, é o mesmo. Ali estão as pequenas e bucólicas aldeias, os monstrinhos algo infantis, como o tradicional slime (a gota de água azul) e o Cruelcumber (pepino cruel. lol). A música, alegre e rítmica, algo pueril, também é a praticamente a mesma. A primeira impressão é de que a Square-Enix não quis arriscar e manteve tudo igual, apenas com algumas melhorias no gráfico, que é mais bem acabado, mas é apenas impressão. Conforme vou jogando as diferenças vão surgindo. O primeiro grande diferencial é no modo multiplayer que foi introduzido. Ainda não joguei porque não tenho o adaptador para conectar o DS à internet, mas está lá, à minha disposição. Este modo online foi responsável por um recorde mundial em 20/05/10, com mais de 100.000.000 de encontros no modo aleatório, em que se pode "esbarrar" em uma pessoa desconhecida que está andando próx

Jogando Final Fantasy XIII

Estou com um problema sério de inspiração e não consigo escrever nada no momento. Para ajudar, esta semana foi lançado um jogo que estava esperando à quase dois anos: Final Fantasy XIII. É um RPG para xbox360. Uma estória como as que escrevo, cheia de fantasia, de beleza, de encantamento. Estou no comando de um grupo de jovens idealistas que luta para libertar seu planeta de um governo tirano. rsrs O bem precisa derrotar o mal, não é? E está em minhas mãos. lol É para lá que vou por uns tempos. Peço desculpas pela pausa na estória, agradeço a visita e a compreensão. Abraços!

(FF XV) Capítulo 14 - 2 milhões de xp e 133 mil gil com o esquema dos Wyverns

Passei dois dias inteiros sem jogar. Mas valeu a pena, foi um Natal muito gostoso, como espero tenha sido o de todos vocês. Antes de ir, não resisti e fiz uma dungeon completa, a do Estreito de Crestholm. Não tem arma real lá. Eu queria fazer porque lá estava a quest da Cindy, O sempre ilustre Regália e também a quarta parte do mapa do Tesouro em papel. Também lá tem um Amuleto do Moogle, que concede + 20% de xp para quem o tiver equipado. Eu já tinha um. Acho que peguei nas Minas Balouve quando fui lá dar uma olhadela e saí correndo para não morrer. rs Bom, o Estreito de Crestholm é um labirinto com mobs lvl 39 e um monte de níveis. Você tem que acionar 7 mecanismos para abrir a porta final. Eu tentei seguir o esquema abaixo, do guia oficial, mas acabei me perdendo um monte de vezes e no fim deu tudo certo. lol Tem dois bosses. Uma espécie de medusa e um tipo de dragão. A medusa não dá quase trabalho e o dragão eu gostei da luta. Ela tem um efeito especial muito bon

FFXIII - Definindo as armas da equipe KILLER

Olha a cara da Lightning: cansada de esperar que defina sua arma. lol Estive segurando a decisão sobre as armas dos personagens até agora, assim como sei de algumas outras pessoas fazendo o mesmo. É complicado porque uma arma tem isto, mas em compensação é fraca naquilo e por aí vai. Não tem uma que se possa dizer realmente boa ou a definitivamente melhor para determinado personagem, exceto talvez aquelas que serão vendidas no Shop Gilgamesh que só abre a partir da conclusão da Missão 46. E nem adianta ir direto lá tentar a sorte, porque ela só desbloqueia depois que fizer a 42, que só desbloqueia... enfim. A questão de dinheiro já está relativamente resolvida e agora é decidir entre as opções disponíveis ou por armas coletadas ao longo do jogo ou que possam ser adquiridas nos shops Up the Arms ou Plautu´s. Penso que a única forma de resolver esta complicação é elegendo um diferencial e seguir por ele e no caso das armas só pode ser a propriedade especial da arma, porque potencia

Artista cria tênis de God of War digno do Deus da Guerra

Jacob Patterson é um artista que trabalha na LA Shoe Design Workshop criando tênis personalizados. Dessa vez o destaque foi a sua mais recente obra: um par inspirado em  God of War . Foi o pedido mais trabalhoso de sua carreira, mas o resultado não é menos que espetacular. Quando Stig Asmussen, diretor de God of War 3 ficou sabendo dos tênis, ele quis vê-los pessoalmente e Jacob ganhou uma visita aos estúdios da Sony Santa Monica. Ele publicou um vídeo onde entrevista o diretor do terceiro jogo e mostra todo o procedimento de criação passo a passo. Além da pintura à mão de todo o calçado, com uma grande imagem de Kratos no calcanhar e uma quantidade imensa de detalhes na frente, Jacob ainda se deu ao trabalho de criar esculturas da Blade of Chaos e prendê-las com correntes no lugar do cadarço. O toque final no trabalho foi dado com o autógrafo de Stig Asmussen. O artista comentou que no meio do processo chegou a odiar a sua obra por estar tomando tanto tempo, mas que o resul