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37) Tristeza

Devo ter sonhado com Adriel esta noite, porque acordei sensível e irritada. Tana não estava e o silêncio da cabana soava como uma campainha disparada em minha cabeça. Não quis sair da cama, não iria encarar este mundo solitário enquanto pudesse. Ao invés disto, peguei o último caderno de meu pai. Se Tana conhecia minha mãe, porque não dissera desde o início? Tinha algo errado nesta estória e queria esclarecer o quanto antes. O último caderno tinha apenas algumas poucas páginas preenchidas e li rapidamente. Papai estava escrevendo de madrugada, enquanto Luna dormia. Ela chegara ao início da noite, usando roupas escuras e parecendo assustada. Disse que sua mãe e os guardas pensavam que estava em seu quarto, que ninguém percebera a fuga e que Eileen ficara em seu lugar para dar-lhes tempo para fugir. De manhã cedo e até quando conseguisse, fingiria ser Luna, atrasando a descoberta da fuga o máximo possível. Entre beijos famintos decidiram aguardar o amanhecer para irem embora. Naquela épo

36) Encruzilhada

“Esqueça a Terra!“ – Estava com aquela frase girando sem parar em minha cabeça desde que foi dita por Kalel. – “Como se fosse possível!” – Pensei recordando o rosto de Maise em vários momentos e expressões. Após o choque de meu despertar em Celes pedi para falar com Hayel, o conselheiro chefe do projeto e também meu orientador pessoal. Foi ele quem ofereceu este trabalho na Terra e esperava dele não apenas explicações como soluções. - Adriel! Desculpe não ter vindo antes. Estava em meio a uma explosão em outro projeto e também quis aguardar pelos resultados dos exames. - Olá, Hayel. Quer dizer que já saíram? Sabem o que exatamente ocorre comigo? - É lógico que ainda estão aprofundando os testes, mas o resultado preliminar está pronto. - E??? - Bem, estão de acordo com as suspeitas iniciais. Tanto tempo impregnado com as energias da Terra acabaram por intoxicar e viciar seu corpo fluídico. Você não deveria ter permanecido tanto tempo sem retornar. Pedi-lhe tantas vezes para vir com fre

35) A princesa dos povos encantados

(narrador) No dia seguinte, logo que a guarda de gnomos assumiu o posto na vigilia de Maise, Tana encaminhou-se para Etera. Chegando ao palácio, foi direto para os aposentos particulares da Rainha que, após os cumprimentos iniciais, dispensou todos que estavam no ambiente e perguntou: - Tana, aconteceu algo para que esteja aqui tão cedo? - Minha Rainha, ontem à noite Maise confirmou o que já imaginávamos: ela é mesmo filha de Luna. - Eu sabia Tana, meu coração não poderia estar tão enganado. Filha de minha filha. Minha neta! - Sim, Majestade. Seu coração estava certo também em não perder as esperanças, ainda que não tenha sido sua filha a retornar. - Pobre Luna. - Ela foi feliz com o homem que amava e teve uma filha adorável. Vossa Majestade poderá fazer por Maise o que não fez por Luna. - É o que desejo: que seja feliz aqui em Etera, o lugar ao qual pertence por direito. Ela deve saber que tem uma família e de toda sua estória. O reino está quase pronto para recebê-la, ainda que ning

34) Saudades

Acordei com a entrada ruidosa de Tana. Adriel não estava. Era a primeira vez após dias que acordava sem ele ao lado e sua ausência soava como um estrondo abafado à espera de irromper. Pensei no menino da fábula, que por horas tentara tampar com os dedos os furos que se abriam no dique para que este não se rompesse e senti-me como ele. Sabia que estava sendo irracional. Faziam apenas algumas horas que ele partira e estaria de volta em poucos dias, mas meu coração e corpo pareciam não entender isto por conta de algum erro de processamento entre minha mente e eles. - O que foi, menina? Saudades já? – Tana perguntou ao ver que continuava deitada com os olhos fechados. - É. Estou com saudades sim e com medo de que não volte. Ah, Tana, estou com tanto medo! – Comecei a chorar ao reconhecer o sentimento por trás da boca seca e da bola no estômago. - Boba! Veja o que ele deixou para você. – Ela mostrou o anjo de origami e o bilhete. – Ele te ama e estará aqui antes que imagine. Eu sei. Já foi

33) Celes

Era melhor um ponto mais aberto para a desmaterialização e fui para a praia, onde o sol já estava por nascer. Observei-o por alguns momentos e depois me desmaterializei, ou ao menos, tentei. Era um pouco demorado e a parte da adaptação posterior um pouco incômoda, mas o processo em si era simples e mesmo tendo já um ano que não o realizava, não havia como esquecer. Concentrei-me e tentei novamente. Nada! Continuava tão sólido como antes. O que ocorria? Sentei em minha pedra e tentei desmaterializar uma das mãos. Tive sucesso e ela desapareceu, apenas para reaparecer segundos após. Tentei novamente com maior concentração e o mesmo ocorreu. Tentei com um pé, perna, com todos os membros, com o corpo inteiro, mas nada. As energias pareciam atraídas para meu corpo e tão logo as dispersava, retornavam. Ao máximo consegui manter uma parte por um período um pouquinho maior, mas o nível de concentração tinha que ser muito maior e não conseguiria sustentar por muito tempo, quanto mais com todo o

32) Perdendo o controle

Maise, que estava lendo sentada na cadeira, levantou-se quando entrei. Fiquei olhando, meio abestalhado e com dificuldades para respirar. Ela usava uma camisola indecente, não por ser transparente ou muito pequena, o que não era, mas por deixá-la sensual e provocante de uma forma que não deveria ser permitido. Estava calculando que levaria apenas cinco passos e um gesto da mão para arrancar aquele paninho de seu corpo, quando ela deu um passo em minha direção e agora eram apenas quatro passos e mais um até a cama, mas este não contava porque não creio que conseguiria dar esse passo adicional e a devoraria inteira ali mesmo, no chão ou na cadeira. Devia estar em meu rosto esta fome de lobo porque ela parou naquele passo e ficou olhando-me insegura. - “Você não é um animal, Adriel. Controle-se!” – O pensamento inseriu-se em minha mente por entre os pensamentos selvagens e conseguiu sobressair o suficiente para que ouvisse. Fechei os olhos e respirei pausadamente por alguns segundos antes

31) Sedução

- Querida, acorde. – Ele estava tentando acordar-me com beijinhos no rosto. - Quero dormir, Anjo. - Estava escuro ainda. - O sol já vai nascer. Venha comigo à praia. – E continuava com os beijos, apertando-me a seu corpo. Ainda meio sonolenta, agarrei-me a ele buscando um beijo. - Vamos dorminhoca. – Ele desviou do beijo e deu-me um tapinha nos ombros. Levantei mal humorada. Não levei o material de pintura. Estava com muito sono para pintar. Sentei ao lado de Adriel e ficamos vendo o dia clarear. O sol nasceu esplendoroso e logo estava inteiro no horizonte completamente azul e sem nuvens. Hoje seria um dia bonito e quente. Voltamos para a cabana e Tana já estava lá, preparando nosso café da manhã. - Tana! – Exclamei abraçando-a. Estava com saudades dela. - Oi, minha menina. Se não parar de me agarrar, o leite vai transbordar. – Era a mesma, ralhando como sempre. Sorri, largando-a e indo sentar com Adriel na mesa. – Quero saber se o menino cuidou bem de você. - Cuidou sim, Tana. Muito

30) Retorno a Portal do Sol

Ela trancou a casa e saímos devagar, despedindo-nos destes dias em que permitimo-nos esquecer um pouco as preocupações. Antes do anoitecer estaríamos em Portal, na segunda-feira ajudaria Maise na arrumação dos novos móveis e à noite ou mais tardar no amanhecer de terça, voaria para Celes. Seguimos uma parte do caminho em silêncio, apenas ouvindo os novos cds que comprei com as dicas dela. - Anjo. – Adorava quando me chamava assim. - Sim. - Explique agora aquilo que disse sobre François. Sobre saber que ele adora-me. - Lembra-se da luz que vê em mim? - Sim. É branca com reflexos prateados. - Chama-se Aura. Todos os seres vivos a possuem. São cores emanadas de nossos corpos e refletem os sentimentos e até mesmo a essência de cada um. A maioria dos humanos não consegue ver a aura dos outros. Não sei como você consegue ver a minha. Eu posso ver a aura de qualquer um. - Até a minha? Como é? - A sua é feita de cores vívidas e alegres. Não seria possível ter esta aura se tivesse qualquer mal