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6) O lento retorno à vida

Naquela tarde falando ao povo encantado iniciei um lento retorno à vida, mas durante todo o primeiro ano em Etera ainda chorei todas as noites, sentindo a lâmina fria remexer-se em meu coração. Durante o dia cumpria com minhas obrigações como Rainha de Etera esforçando-me para não pensar em Adriel, nas saudades que sentia ou na dor que me partia inteira. Agia como deveria para que os seres elementais não percebessem o quanto minha tristeza era intensa. Um simulacro de sorriso estava sempre em meus lábios, a modulação da voz era gentil e agradável e o semblante calmo. À noite após o término de minhas obrigações, dispensava todos e ia sozinha para a cozinha, onde Tana deixava vários pratos à minha espera. Sentava-me à mesa e começava a comer. Às vezes conseguia comer toda a refeição e só chorar depois, mas quase sempre o choro pegava-me ao meio. Tudo o que era belo ou bom trazia-me de volta a Adriel e conseqüentemente à sua ausência. Quando alimentava-me com a comida gostosa de Tana, sen

5) As fadas do Monte Orm

No Monte Orm, um grupo de fadas reunidas em círculo ouvia atentamente o que uma pequenina fada azul falava. - Você tem certeza de que Maise disse isto e convocou o povo? – Perguntou uma delas, Me, agitada. - Tenho, lógico. Quando desceram na borda do lago estava sentada em um galho de árvore. Fiquei quieta. Era a primeira vez que ela saia de casa e não quis fazer nada para atrapalhar. Acabei ouvindo quando Elros explicou que Etera está assim por causa de sua tristeza. – Respondeu Bruxinha, que recebeu este nome por suas trapalhadas com os encantamentos. As fadas do Monte implicavam de brincadeira que não era fada e só podia ser bruxa e riam, mas na verdade adoravam-na e ao seu jeito doidinho e amoroso, sempre querendo ajudar e metendo-se em confusão atrás de confusão. As fadas do Monte Orm são da antigas e sábia linhagem. Vivem em uma vila atrás do Castelo de Etera e dedicam-se aos encantamentos mais difíceis e trabalhosos, quase sempre aqueles que envolvem a transformação da matéria,

4) Enquanto isto...

No silêncio do universo onde um segundo antes nada havia, uma pequenina centelha inicia a brilhar, solitária. Imagem recortada a partir de imagem daqui .

3) A vida sem Adriel

Um mês havia passado desde que fecháramos o Portal e que vivi dentro do palácio, praticamente apenas no quarto, deitada, chorando ou dormindo. Nos primeiros dias à base de calmantes naturais feitos pelas fadas que me deixavam praticamente inconsciente quando acordada. Após uma semana Tana diminuiu as doses e comecei a passar longas e intermináveis horas sem seu efeito, exposta à dor insuportável. Elros queria que assumisse o trono de Etera, mas não quis. Pedi que continuasse sendo o regente até que estivesse melhor. Ele concordou, mas não deixava de consultar-me a toda hora quanto a decisões sobre o governo. Eu não queria saber de nada, mal estava ouvindo o que dizia, mas ele não desistia. Adriel se fora e não havia mais sentido algum na vida. Tanto fazia uma coisa como a outra. Será que ele não entendia??? O pior de tudo é que eu era culpada. Se tivesse ficado no barco, como Adriel pedira, não teria se jogado na frente da flecha para salvar-me, ou, antes ainda, se tivesse concordado e

Um pouco da Magia da Noite

FUMO Longe de ti são ermos os caminhos, Longe de ti não há luar nem rosas; Longe de ti há noites silenciosas, Há dias sem calor, beirais sem ninhos! Meus olhos são dois velhos pobrezinhos Perdidos pelas noites invernosas... Abertos, sonham mãos cariciosas, Tuas mãos doces plenas de carinhos! Os dias são Outonos: choram... choram... Há crisântemos roxos que descoram... Há murmúrios dolentes de segredos... Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, ó meu amor pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos... (Florbela Espanca) Existem encontros mágicos em nossas vidas, quando sem querer esbarramos em algo especial. Pode ser uma música, um lugar, uma pessoa, um escritor, mas certamente todos nós temos estes momentos especiais, gravados para sempre. Recordo-me ainda daquela tarde preguiçosa quando, ouvindo ópera no cd-player (naquela época ainda não existiam os mp3 da vida), entrei em uma livraria e fui à sessão de poesia disposta a encontrar uma mulher que falasse melhor ao

2) O fechamento do Portal de Etera

Não vi. Contaram-me depois que vovó e mamãe cercaram-me na pedra e envolveram-me em energias calmantes até que adormecesse e só partiram após um longo e cúmplice olhar com Tana. Ela providenciou para que Elros carregasse-me até a cabana e ficou velando-me o tempo todo em que dormi, e Niis também não saiu nem por um segundo dos pés da cama, dormindo ali no chão mesmo. Mais de 12 horas depois, quando acordei, tive uma certeza apenas: Adriel não morrera, apenas abandonara o corpo físico. Ele estava recuperando-se em algum lugar, provavelmente em Celes e voltaria assim que pudesse. Imbuída com esta certeza, não chorei mais e comecei a tomar as providências que se faziam necessárias, enquanto aguardava seu retorno. A primeira e mais importante foi pedir a Eliah para ir a Celes e trazer-me notícias. Ele foi prometendo voltar tão rápido quanto pudesse. O corpo de Adriel foi colocado em um caixão fechado, mas não enterrado, pois não sabia se precisaria dele ao retornar e decidi deixar para ele

TRILOGIA DO ANJO - ETERA - 1) Retorno a Portal do Sol

Chegamos a pouco a São Luis. Fazia já três semanas que havíamos nos casado e que estávamos navegando pela costa do nordeste brasileiro. Mais uma semana apenas e voltaríamos para casa. Casa... Sorri ao sentir a sensação quente e reconfortante ao pensar em Portal do Sol e em nossas duas casas, a maior de Adriel onde viveríamos e a cabana que seria sempre nosso refúgio. Olhei para ele recém saído do chuveiro e admirei-me ainda uma vez por sua beleza, sem conseguir ainda acreditar que aquele monumento de homem fosse meu marido e que fôssemos tão felizes. Estávamos preparando-nos para desembarcar quando seu celular tocou. Paramos um segundo olhando-o intrigados. Não tocara nestas semanas. Nós é que tivemos que ligar para casa depois de algum tempo, em busca de notícias. Adriel atendeu, ficou ouvindo sem quase falar e desligou dizendo que estávamos indo. - Era Elros. O complexo e o Portal estão sendo atacado por demônios e elfos negros. Parece que a situação é séria. Temos que ir agora. – El